Ela chegou furtivamente. Encolhida ela veio,
escondida, com muita vergonha e medo.
Humilhada ela estava. E o seu mal era bem
mais do que um destempero orgânico. Era
mais do que um incômodo mensal.
Era uma sangria permanente. Uma perda
doída e sangrenta de vida, infindável durante
muitos anos. Ela se reconhecia impura.
Perante a Lei de Moisés ela deveria estar
recolhida, bem longe. Mulher contaminada.
Imunda. Jamais no meio do povo.
Caminhando pela cidade.
Ela procurava Aquele Alguém de tudo capaz.
Sabia seu Nome. Mas não onde Ele estava,
porque vivia a caminhar por toda a Terra
fazendo o bem, porque Deus era com Ele.
Quebrou todos os protocolos. A ética e os
bons modos. Mas foi andando. Até chegar no
meio da multidão. Só ali ela poderia esconder-
se dos santos sacerdotes, e até dos seus
parentes, para não ser apedrejada.
Ninguém veria. Nem notaria a palidez do seu
rosto. O abatimento na sua face. A falta de
cor. A dor. Os olhos fundos. As mãos que
passava sobre o ventre, o útero que doía.
Ela foi chegando. Determinada. No meio da
multidão. Estendeu as mãos. Mãos trêmulas.
Escondidas na manga. Fracas e mal nutridas.
Talvez não só aquela enfermidade. Já era um
câncer. Uma metástase. Chegado aos seios
doloridos. Alcançando órgãos vitais.
Ela foi... Caminhando... Venceu as barreiras do
populacho... A frieza dos escribas, sacerdotes
e discípulos ciumentos.
Ela O viu de costas. Ainda não vira a sua face,
nem a cor dos seus olhos. Mas esticou o
braço tremente. As mãos amarelecidas.
Apontou o dedo firmemente...
Ela sabia, sim. De longe. Até de costas. Onde
estivesse, e se chegasse perto, aconteceria.
Tocou-O com a ponta do dedo. E o mal
acabou-se para sempre.
Era Ele. Ele estava ali.
É certo que perdemos grandes bênçãos,
estando tão perto, mas sem ousadia e fé
para nos achegarmos a Ele.
Chegue-se a Ele!
Pr. Reuel Pereira Feitosa